ENTREVISTA: Martin fala sobre o projeto "Martin & Eduardo" e seleciona grandes nomes e momentos do Rock


Martin Mendonça é guitarrista. Mais do que isso. Martin é o guitarrista da banda da Pitty, uma das figuras mais importantes da última geração de roqueiros surgidos no Brasil. Mas esse não é o único projeto do cara. Ao lado de Duda - que é seu companheiro de banda, assim como Pitty -, Martin formou a dupla Martin & Eduardo. Nome simplório, sonoridade nem tanto. O primeiro disco do duo, Dezenove Vezes Amor, lançado ano passado, traz diversas músicas compostas por Martin ao longo dos anos.

Além do Martin & Eduardo, o guitarrista mantém, ao lado de Pitty, outro projeto paralelo chamado Agridoce. Ambos estão em hiato por conta de uma série de shows que Pitty vai fazer nos Estados Unidos nos próximos meses. Mas Martin garante que entra em estúdio em setembro para a gravação do segundo disco do Martin & Eduardo, que deve ser lançado até o final do ano.

Na semana do Dia Mundial do Rock, comemorado na próxima quarta, dia 13, Martin fala sobre Pitty, outros projetos musicais e elege seus grandes ícones roqueiros do Brasil e do mundo. Veja a entrevista completa:

Como surgiu a ideia de criar o projeto Martin & Eduardo?

Eu ia escrevendo e gravando isso num estúdio que eu tenho aqui em casa. Mostrei isso para a Pitty e ela falou: "isso é massa e não consigo imaginar outra pessoa cantando que não seja você". Quando eu consegui juntar um montante razoável, por volta de 10  ou 12 músicas, resolvi gravar. Não sabia o que eu queria fazer ainda, mas sabia que eu queria fazer com o Duda, pelo baterista que ele é, e também para dividir a produção com ele, porque nós temos uma dinâmica de trabalho que funciona muito bem. E conforme o disco foi tomando corpo, a coisa virou nossa. E eu pessoalmente não estava com vontade de lançar um disco solo, não era uma ideia muito simpática na época. Então a gente resolveu fazer essa dupla e lançar o disco de forma despretensiosa e balsâmica.

E o nome do projeto, como surgiu? 

A ideia foi do Duda. A gente estava querendo batizar o projeto, mas não conseguíamos chegar a lugar nenhum. A gente conversou e chegou a conclusão que nome de banda é uma merda, a gente só gosta do nome depois que a gente gosta da banda. E aí nós começamos a simpatizar com esse nome. No final, Martin & Eduardo é uma espécie de anti nome. Ele não é o nome da banda, é simplesmente uma descrição. E é isso. A piada é que somos uma dupla sertaneja.

E como que a Pitty encara o projeto? 

Eu sempre mostrei o que eu escrevo para ela, confio no bom gosto dela e até porque é legal ter um olhar exterior. E ela sempre me deu a maior força, foi minha treinadora de vocal, me deu vários toques, foi massa. Nos primeiros shows do projeto ela foi discotecar. O Martin & Eduardo nos enriqueceu muito, profissionalmente falando. O próximo disco da Pitty vai ter muitos benefícios recorrentes dessa experiência. O show do Martin & Eduardo é uma aventura. Depois que eu comecei a fazer, os shows da Pitty ficaram muito melhores pra mim. Ter essa interface de comunicação com o público é muito difícil. E eu fico morrendo de saudades de voltar para o lugar que eu faço melhor as coisas.

Você encara o projeto Martin & Eduardo como uma válvula de escape, um alívio desse universo do mainstream?

Eu sempre falava para os meus amigos que eu sentia falta de todo mundo entrar numa van, numa roubada, todo mundo dividindo uma quarto podre, som ruim, o cara jogar uma garrafa de cerveja na minha cabeça porque não gostou da música. Eu sou romântico nesse sentido, mas eu sei que não posso - e não quero - continuar nesse universo low profile pra sempre porque eu tenho ambições muito maiores. Esse talvez seja o maior benefício que Martin & Eduardo me trouxe. Financeiro não trouxe nenhum, reconhecimento também não, já que o projeto não teve uma abrangência muito grande.

Vamos falar um pouco de rock and roll agora. Queria que você escolhesse um ícone brasileiro do rock e justificasse a escolha.

Edgard Scandurra, ele é um garoto. Há 30 anos, ele já era um excelente guitarrista de uma banda muito consolidada, mas nunca parou de se reinventar. Se você pegar um folheto de show do Edgard ou do Benzina, no Studio SP, pode ir porque com certeza você vai encontrar uma música nova, um som novo, ela vai tocar de uma maneira diferente.

E um ícone gringo do rock?

Josh Homme é um cara que eu acho sensacional por sua fertilidade. Fora o fato de ele tocar numa banda que eu adoro, Queens of the Stone Age, fora o fato de eu achá-lo um puta cantor e um puta guitarrista. A natureza inquieta que o cara tem. E o cara consegue se desdobrar e ter uma puta carreira com o Queens, consegue fazer o Them Crooked Vultures. Ele acaba sendo um catalizador. O Jack White também é excepcional nesse sentido, ele não se contenta em ser o guitarrista e o vocalista daquela banda que está vendendo milhões de discos.

E qual o álbum de rock mais emblemático para você?

Paranoid, do Black Sabbath. Além de ser um álbum clássico de músicas incríveis, tem uma coisa que eu sinto muito falta hoje em dia: pureza. Como aqueles caras eram jovens, desinformados, e como eles sabiam tão pouco sobre o que eles estavam fazendo. Eu vi um documentário sobre o Paranoid, e o processo de gravação desse álbum é pura poesia. E eu sou muito romântico com relação ao rock and roll nesse aspecto, e é uma coisa que eu acho que se perdeu um pouco.

E você acha que o rock feito hoje é pior do que o rock que era feito há 30, 40 anos?
Não acho que é pior, mas é diferente. Do mesmo modo que a gente perdeu alguns elementos, também ganhamos outros: essa inclusão digital, recursos que possibilitam que você grave um disco no seu quarto. Não acho isso condenável. Obviamente você inunda o mercado de coisas terríveis, mas esse contingente de obras sem conteúdo e sem relevância não tira o mérito de ainda sermos surpreendidos por coisas boas.
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