Entrevista para o G1 do Triângulo Mineiro

(Foto: Daryan Dornelles/ Divulgação)


Em entrevista ao G1, Pitty falou sobre os 12 anos de carreira, das letras, dos destinos da música na web e a valia do “o importante é ser você” – cantando no refrão do primeiro som lançado, "Máscara".

Qual a relação da banda com o Triângulo Mineiro, em especial com a galera que acompanha o trabalho de vocês?

Tocamos aí na região desde o primeiro disco, então já passamos por várias fases juntos. E tem uma galera que acompanha desde lá e outros que se juntaram com o tempo. Acredito que a cada disco, e a cada turnê, essa relação se fortalece.

A turnê SETEVIDAS já completou um ano com muita sintonia entre você e os meninos no palco. De onde veio a afinidade e decisão pelo Guilherme e o Paulo Kishimoto? Eram conhecidos de longa data?

O Gui já era conhecido nosso, e o Paulo veio indicado por um amigo, mas depois descobrimos que ele já era parte da cena: tocou com Forgotten Boys e várias bandas amigas. Os dois são grandes músicos, talentosos, somam muito no processo musical e são ótimos de conviver. Tirei a sorte grande em achar esses dois, eu que pensava que era bom não sabia que podia ser ainda melhor.

Como é montar o repertório de uma turnê nova?  Os hits anteriores, lados B e covers ganham qual espaço em um festival?

O set list foi se modificando do começo da turnê até aqui, fizemos vários testes. Hoje chegamos em um que dá ênfase ao disco novo, mas que também tem espaço para as músicas dos outros discos que as pessoas conhecem. E aí, a partir desse mais geralzão a gente vai se adaptando conforme a situação: em festival geralmente o tempo de palco é menor, em shows só da gente dá pra tocar mais uns lados B, e o próprio feeling da gente no dia também conta.

Seu 2013 foi marcado por tratamento de hipotireoidismo, mudanças na formação da banda e pausa no projeto paralelo Agridoce. Após tudo isso, subir em um palco e fazer rock ganhou novo significado?

Completamente. Isso tudo me fez perceber muitas coisas, entender o que é importante, ser mais paciente com situações chatas, mas ao mesmo tempo ter mais força ainda pra afastar gente vampira ou coisas constrangedoras. Um baita aprendizado. No final, vem a satisfação de continuar vivendo de música, de estar cercada de amor com minha banda atual, e ver o público tão ativo e apaixonado por esse disco. Às vezes a gente tem que descer até o inferno só pra depois reconhecer o paraíso.


É perceptível que suas composições ficaram mais “internas” com o passar dos discos. Escrever na terceira pessoa é um desafio ou tratar o autoconhecimento é mais prazeroso?

Eu sempre achei um desafio escrever em terceira pessoa. Já tentei algumas vezes como exercício, e vou continuar tentando. Mas até hoje o que rola de forma primal é esse vasculhamento interno, que considero pertinente porque é natural que se tenha mais propriedade quando se fala de você mesmo. É incontestável, porque é sentimento e é de cada um. Mas mesmo quando se escreve em terceira pessoa ou se conta a história de alguém, ainda assim é permeado pelo ponto de vista do autor e acaba transparecendo ali sua bagagem, vocabulário, raciocínio, a não ser que seja uma transcrição literal da fala de alguém.

Ainda sobre as composições, o que anda fazendo parte do seu universo e que deve ecoar em futuras letras? E na sonoridade, o que tem se somado aos seu background?

Vixe, isso é tão, tão subjetivo. Eu nunca sei exatamente o que vaza para uma letra ou música, são tantas coisas vistas, lidas, ouvidas, o tempo todo. Nunca sei de onde vem aquele estalo, aquela vontade de escrever. Por isso fico com a antena ligada o tempo todo, absorvendo. Depois na hora de criar fica tudo tão homogêneo que nem dá pra reconhecer isso ou aquilo.

O discurso em prol das liberdades individuais ganhou mais vazão nos seus papos. Nas redes sociais e, mais ocasionalmente, em encontros também se tornou recorrente. Acha que evidenciar esses assuntos pode trazer quais melhorias sociais em curto prazo?

Conversar sobre esses assuntos e trazê-los de forma orgânica pro nosso dia a dia é uma coisa boa. Isso acontece naturalmente e para mim é impossível viver sem senso crítico, sem parar para entender o jeito que nos relacionamos e como podemos melhorar isso. É para além da questão de ser artista, é coisa de cidadão. Não sei pragmaticamente que tipo de melhorias isso traz, mas acredito que só o fato de se discutir assuntos desse tipo já promove uma mudança em todos nós.  Uma mudança de postura, de botar as coisas na roda, de não jogar pra debaixo do tapete.

De que forma as redes sociais, internet e streaming auxiliam na sua carreira? Na sua opinião, a alma ‘do it yourself’ (faça você mesmo) da música mais segmentada e/ou independente tem se moldado a essa perspectiva da web?

O 'faça você mesmo' cabe perfeitamente nesses formatos, e sempre vai achar meios de caber justamente porque tem essa condição do "fazer" acima de tudo. Antes era fita demo e zine, agora é mp3, clipe online e blogs, e por aí vai. Eu gosto do futuro e acho a maior bobagem não jogar junto com ele. Minha postura é progressista nisso também, essas são as ferramentas de hoje e eu vou fazer parte delas ao invés de ficar brigando e achando que toda nova plataforma vai "matar a indústria". Que indústria, cara pálida? A música vive, sempre. E a gente vai encontrar formas de fazer isso ser bom para quem faz e para quem ouve.

Muito se ouve e lê por aí que você é a principal representante dessa geração no rock nacional. Fazendo uma análise da sua carreira, onde acredita estar situada na música nacional atualmente e aonde quer chegar?

É muito difícil para mim, estando em mim e me vendo daqui de dentro, entender ou responder isso. Acho que quem está de fora, nesse caso, pode ter uma visão mais geral e menos autocentrada, talvez mais justa. Mas fico feliz de ser reconhecida, de poder gravar discos, de poder fazer shows, de ter gente que se identifica. Mas onde quero chegar eu acho que sei: compor cada vez melhor, descobrir novas sonoridades, nunca fazer um disco igual ao outro. Pesquisar. Inventar coisas. Nunca parar de ter ideias.

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